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domingo, setembro 30, 2007

CRONOS E KAIROS



O ano está acabando. Recebemos dos amigos e familiares mensagens desejando que aproveitemos bem o próximo ano. Mesmo quem não está com espírito natalino nem a fim das tradicionais confraternizações, sempre pensa se aproveitou bem o ano e faz planos para os próximos 365 dias.

Sabemos que o tempo é finito e a vida é breve. Mas nem sempre sabemos aproveitar bem os nossos dias.

Há uma expressão latina nas odes do poeta Horácio que diz “Carpe Diem ”. Rubem Alves escreveu:
"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

Podemos concordar com ele, pois o passado já foi e não sabemos como será o futuro. O presente é o tempo certo e inédito para viver.

Em todos os períodos da literatura universal, muitos escritores fizeram referência ao “Carpe Diem ”. Na Literatura Brasileira, essa idéia esteve muito presente durante os períodos do Barroco e Arcadismo.

O homem barroco, diante da efemeridade da vida, sente o desejo de aproveitá-la, mas teme pela salvação espiritual, resultando no sentimento contraditório característico desse estilo de época. Gregório de Matos escreveu em um soneto:
"Goza, goza da flor da mocidade. / Que o tempo trata a toda ligeireza / E imprime em toda a flor sua pisada."

No Arcadismo, a mesma sensação de fugacidade do tempo e o carpe diem horaciano nas liras de Tomás Antônio Gonzaga:
“Sobre as nossas cabeças,/ Sem que o possam deter, o tempo corre; / E para nós o tempo, que se passa, / Também, Marília, morre.”

Walt Whitman escreveu um poema que começa assim :
"Carpe Diem, aproveite o dia. / Não deixes que termine sem que tenhas crescido um pouco, / sem que tenhas sido um pouco mais feliz, / sem que tenhas alimentado teus sonhos."

Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, escreveu:
“Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio”.

Mais recentemente o tema fez parte do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, de 1989. Imperdível para os estudantes de Letras, profissionais da Educação e todos os que acreditam na transformação dos valores que escravizam.

Na época em que assisti ao filme eu tinha 17 anos, estava saindo do Curso de Formação de Professores, com sonhos de uma turma perfeita. Eu queria ser como o Professor Keating, que mandava rasgar os manuais e incentivava todos a seguirem seus sonhos. Minhas dúvidas sobre fazer Filosofia ou História se dissiparam, eu faria Letras e seria professora de Literatura.

O que caiu no vestibular de 1990? Carpe Diem! Um texto de Tomás Antônio Gonzaga fazendo relação ao tema do filme. Ponto pra mim.

E o tema do tempo que corre está em meus versos sempre:

“...Os dias se movimentam
em procissão contínua
águas de Heráclito
nos diferentes rios
relógios nas longas noites
siderais...”

“...As esperas parecem incontáveis
nas horas que escorrem.
São Relógios de Dali
que escapam entre os dedos...”

“...Perco-me nas horas do relógio
sem memória,
mas não ignoro o insistente
carpe diem
dos ponteiros...”

“...Cronos, meu Senhor,
não meça meus passos
tão rápido!
Deixa que eu ouça a voz
de Dirceu
despertando Marília.”

Segundo a mitologia grega, Cronos, diante da ameaça de ser destronado por um dos seus filhos, come-os assim que nascem. Tudo que nasce do Tempo é devorado por ele mesmo. Um belo símbolo. Cronos é o tempo medido pelo relógio, o tempo linear que dita o ritmo das nossas vidas. Mas existe Kairos, o tempo que é vivido, o tempo qualitativo.

No sentido mais profundo, a expressão Carpe Diem não quer dizer para só para aproveitar os instantes como se fossem os últimos e fazer coisas inconseqüentes, mas aprender a sincronizar Cronos (tempo) e Kairos(momento certo.)

Uma das melhores mensagens que recebi esse ano sobre o tema, atribuída a Chico Xavier, foi:
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.



CRONOS E KAIRÓS: Repensando a Temporalidade do Currículo
Joe Garcia
Introdução
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a noção dominante de tempo que tem informado o pensamento curricular, em contraposição a uma outra noção, mais qualitativa. Nesta tarefa, vamos recorrer a duas imagens da mitologia grega, Cronos e Kairós, cada qual representando uma dimensão de temporalidade.
O Mito de Cronos
A narrativa mitológica é bastante rica em imagens arquetípicas que oferecem metáforas criativas para pensar a experiência e as relações humanas. Uma dessas imagens, o mito de Cronos, historicamente tem sido associada a uma dimensão da temporalidade humana.
Segundo a mitologia grega (GRIMAL, 1992), Cronos é filho de Urano e Gaia. Urano ocultava sistematicamente seus filhos, ao nascerem, no corpo de Gaia. Revoltada, ela convence Cronos a enfrentar Urano. Ao lutarem, Urano acaba sendo castrado por Cronos, que assume o poder. Ele se casa com Réia e têm vários filhos. Mas, ao tornar-se o soberano, Cronos aprisiona seus irmãos e passa a devorar sistematicamente seus próprios filhos logo após terem nascido, por receio a uma profecia lançada por Urano, segundo a qual Cronos também seria destronado por um filho. Entretanto, um dos filhos de Cronos, Zeus, nasce e refugia-se em uma gruta, onde cresce em segurança. Mais tarde, Zeus enfrenta Cronos, e o faz libertar os outros filhos que havia engolido.
O mito de Cronos oferece elementos simbólicos interessantes a serem explorados para pensar algumas qualidades que o tempo pode assumir, sobretudo como instrumento de poder. A castração de Urano, por exemplo, representa o estancamento da intuição e da criatividade, capazes de antever o futuro. Por outro lado, ao engolir seus filhos, Cronos busca preservar o poder, controlando possibilidades e estabelecendo limites para o futuro. Mas Cronos é incapaz de controlar totalmente as possibilidades do futuro representadas por Zeus, que em silêncio, aguarda uma oportunidade para manifestar-se.
Cronos também representa o olhar crítico daquele que avalia possibilidades e limites. Ele simboliza a percepção ou delimitação das circunstâncias temporais (SULIVAN, 1992). As noções de limitação e delimitação estão em estreita relação com à noção de tempo cronológico.
O currículo pode ser encarado como uma expressão da noção de ordem temporal personificada por Cronos. Ele implica uma delimitação intencional do conhecimento em blocos de tempo, e sua prática articula poder. O currículo vincula o tempo a objetivos, conteúdos, métodos, recursos e avaliação. O planejamento do dia escolar é minucioso, o mesmo ocorrendo com a rotina semanal e o ano escolar. Calcula-se o tempo a ser dedicado a cada aula e assunto, e estipula-se o momento quando o aproveitamento do tempo investido será avaliado. Em síntese, o currículo tem sido informado por um pensamento cronológico, que não deixa escapar um instante sequer sem ser planejado.
Mas a noção de tempo representada por Cronos esgota as possibilidades da temporalidade humana? Vejamos a dimensão temporal simbolizada por Kairós.
Encontro com Kairós
O termo Kairós refere-se tanto a uma personagem da mitologia, quanto uma antiga noção grega para referir-se a um aspecto qualitativo do tempo. A palavra Kairós, em grego, significa o momento certo. Sua correspondente em latim, momentum, refere-se ao instante, ocasião ou movimento que deixa uma impressão forte e única para toda a vida (WEBSTER, 1993).
Na mitologia grega, Kairós é um atleta de características obscuras, que não se expressa por uma imagem uniforme, estática, mas por uma idéia de movimento. Metaforicamente, ele descreve uma noção peculiar de tempo, uma qualidade complementar em relação à noção de temporalidade representada por Cronos.
Kairós refere-se a uma experiência temporal na qual percebemos o momento oportuno em relação à determinado objeto, processo ou contexto. Em palavras simples, diríamos que Kairós revela o momento certo para a coisa certa. Kairós simboliza o instante singular que guarda a melhor oportunidade, ele é o momento crítico para agir, a ocasião certa, a estação apropriada.
Mas Kairós não reflete o passado, ou antecede o futuro. Kairós é o melhor instante no presente. Ele representa um tempo não absoluto, contínuo ou linear, ao contrário do que propõe a concepção newtoniana refletida no tempo cronológico, socialmente estabelecido (ZERUBAVEL, 1982). A dimensão de experiência temporal representada por Kairós instala-se em consonância à totalidade dos elementos individuais envolvidos e à dinâmica de suas relações.
Mas como a temporalidade de Kairós pode estar inserida na teoria e prática do currículo?
Repensando a Temporalidade do Currículo
A noção de momento da oportunidade representado por Kairós, constitui um elemento complexo para ser pensado em termos do currículo.
O currículo, enquanto um conjunto de conhecimentos intencionalmente selecionados de uma cultura (PEDRA, 1993), está perpassado por uma noção de ordem, onde a oportunidade é antes planejada que deixada para ser percebida. Essa noção de ordem reflete o paradigma de Cronos. A experiência de Kairós, por seu turno, baseia-se na percepção sutil de um significado que surge da totalidade de um instante imprevisível. Ocorre quando o professor se defronta com determinado contexto pedagógico, por exemplo, e neste percebe uma oportunidade singular para ensinar algo.
A consciência de Kairós requer uma percepção aguda das necessidades dos indivíduos envolvidos, bem como daquilo que o grupo engendra. Kairós apresenta-se como uma janela de oportunidade que subitamente se percebe aberta em um dado contexto. Perceber e explorar um momento oportuno requer uma atitude atenta e criativa, o estar presente e a habilidade para inserir a ação pedagógica. Ao responder às sutis necessidades do momento, recorrendo ao sentido de oportunidade informado por Kairós, a ação pedagógica ultrapassa os limites representados por Cronos.
As temporalidades representadas por Cronos e Kairós, complementares, requerem conjugação. Assim como alguns contextos educacionais podem ser criados, outros devem ser descobertos ou percebidos, na forma de oportunidade adequada para se efetivar alguma ação pedagógica, ainda que apenas de transmissão.
A ordenação do conhecimento implicado no modo historicamente estabelecido de fazer e praticar o currículo, se por um lado recorre a Cronos, ignora as possibilidades criativas de Kairós. Kairós, entretanto, desdobra-se da totalidade em movimento, que não pode ser aprisionada a priori, ao contrário do que supõe a visão mecanicista-newtoniana que inspirou as primeiras formulações do currículo (DOLL, 1989).
Uma aproximação à noção de temporalidade simbolizada por Kairós, pode ser vislumbrada em momentos de "reflexão-na-ação" (SCHÖN, 1995). Nestes momentos sutis, o professor reflexivo percebe uma ordem distinta de significado em um evento de aprendizagem, e retorna a ele com um novo sentido de oportunidade. Refletindo sobre a experiência de temporalidade aí presente, diríamos que o professor reflexivo percebe uma janela de oportunidade que se abre momentaneamente. A percepção de Kairós, portanto, significa saber quando e como utilizar o momento oportuno.
Em se tratando do currículo, a dimensão temporal representada por Kairós ajuda a repensar as limitações impostas pela noção de tempo cronológico, linear e rígido, que historicamente tem perpassado a concepção e prática do currículo, e propõe o desafio de incorporar uma noção de temporalidade ainda pouco explorada, mas muito "oportuna" para o contexto crítico da educação contemporânea.
Referências Bibliográficas
1 DOLL, William. Foundations for a post-modern curriculum. Journal of Curriculum Studies, New York, v. 21, n. 3, p. 243-253, 1989.
2 GRIMAL, Pierre. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Bertrand, 1992. 554 p.
3 PEDRA, José Alberto. Currículo e conhecimento: níveis de seleção e conteúdo. Em Aberto, Brasília, n. 58, p. 30-37, abr./jun. 1993.
4 SULIVAN, Erin. Saturno em trânsito. São Paulo: Siciliano, 1992. 323 p.
5 WEBSTER'S THIRD NEW INTERNATIONAL DICTIONARY. Springfield: Merriam-Webster, 1993. 2662 p.
6 ZERUBAVEL, Eviatar. The standardization of time: a socio-historical perspective. American Journal of Sociology, Chicago, v. 88, n. 1, p. 1-23, July 1982.




O Tempo da vida: vivê-lo como cronos ou kairós?
17/5/2006

Artigo de Bioética, do Padre Leo Pessini, do Centro Universitário São Camilo

“Para tudo há um tempo debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer;

tempo para chorar e tempo para rir; tempo para calar e tempo para falar”... Ecle 3,1-5

“O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração” Rubem Alves


Ouvimos no dia a dia expressões como estas: “não tenho tempo”, “não dá tempo”, “o tempo não passa”... “perdi o tempo da minha vida.” Com saudades de algo no passado ouvimos “ ah, no meu tempo...era diferente e muito melhor”. Enfim, o senhor tempo... Estas expressões me levam a propor algumas reflexões em termos de como trabalhamos com a dimensão da temporalidade da vida humana, e com o tempo no dia a dia.

Existem duas formas de vivermos o tempo na vida: como cronos ou kairós. Ao tentar refletir sobre esta realidade, corro o risco de ser tachado de “romântico ou idealista incorrigível” num contexto em que as forças do mercado globalizado repetem de forma insistente e dogmática, de forma subliminar de que “tempo é dinheiro”. Conseqüentemente, estamos sempre sem tempo, estressados e correndo sem saber onde chegar! Mas vamos em frente! Cronos é o “tempo das batidas do relógio”, a marca implacável da finitude e temporalidade humana no processo de envelhecimento de nosso corpo.

Trata-se do tempo de quem está tenso no hospital esperando por ter alta ou com angústia esperando por um resultado positivo de um determinado diagnóstico, ou o tempo urgente para salvar a vida de alguém numa parada cárdio-respiratória na emergência, entre tantas outras situações. Nesta dimensão de tempo, lutamos contra, nos sentimos facilmente vítimas dele, pois em geral chegamos sempre atrasados e o tratamos como se fosse um inimigo.


Facilmente esquecemos que a temporalidade é constitutiva da existência humana. Caso acumular anos fosse somente uma série de momentos isolados, então poderíamos escolher aqueles que nos seriam mais significativos. Precisamos questionar a ideologia dos que elegem somente uma parte de suas vidas como significativa. Por exemplo, hoje se afirma que todo o sentido da vida se encontra na busca da eterna juventude. Nesta perspectiva passamos a gostar somente do tempo da juventude, a desconfiar do tempo de adultos e a simplesmente detestar e rejeitar o tempo que marca o outono de nossa vida, ou seja da velhice. Expressões como “estou com oitenta 80 anos, mas tenho espírito jovem”, não denuncia um pouco esta mentalidade de não assumir plenamente a sabedoria da vida na maturidade dos anos?

Mesmo sendo igual para todos - um minuto é sempre um minuto - este é percebido subjetivamente de forma diferente para cada pessoa. Comentamos com freqüência que o tempo demora demais em passar ou que passa rápido demais. Uma mensagem interessante em relação a esta percepção do tempo diz o seguinte:

“Para perceber o valor de um ano pergunte ao estudante que repetiu o ano.

Para perceber o valor de um mês, pergunte para a mãe que teve o bebê prematuramente.

Para perceber o valor de uma semana, pergunte ao editor de uma revista semanal.

Para perceber o valor de uma hora, pergunte aos namorados que estão esperando para se encontrar.

Para perceber o valor de um minuto, pergunto para a pessoa que perdeu o avião.

Para perceber o valor de um segundo, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente.

Para perceber o valor de um milésimo de segundo pergunte ao piloto que ganhou uma prova de Fórmula Um”.


Qual o segredo desta valorização do tempo, se as batidas do relógio, em termos de hora, minuto ou segundo são rigorosamente iguais para que quem o percebe passando rápido ou demorando demais?

Claro que somos filhos(as) do tempo, vivemos no Cronos, mas não somos simplesmente vítimas do processo de envelhecimento. Podemos fazer diferença cultivando uma atitude positiva que depende exclusivamente de nós. É preciso fazer acontecer a dimensão do kairós. O tempo, como kairós, isto é, como experiência da graça maior que plenifica a vida e lhe dá sentido. É o tempo que abraça a vida “como um caso de amor”, de uma experiência profunda de paz, de reencontro e de reconciliação, consigo mesmo, com os outros e com o grande outro, Deus. É o tempo medido “com as batidas do coração”, como diz Rubem Alves. Aqui, mais do que lamúrias por não ter vivido, ou por falta de tempo, vamos encontrar pessoas com histórias fantásticas de sentido de tempo.

A dimensão do cronos é significada pelo kairós. “Nossa, já se passaram três horas e nem percebi...”. É o tempo do amor, do encontro que plenifica o viver. É a vivência da sabedoria de perder tempo com o que é essencial na vida. Como no livro do Pequeno Príncipe, quando a raposa diz ao príncipe: “foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante”. Uma verdade esquecida entre os humanos. É preciso lembrar que nos tornamos eternamente responsáveis por quem cativamos. Nesta dinâmica, bastam por vezes apenas cinco minutos de encontro com alguém, para que oitenta anos ou mais de cronos adquiram significado, luz e sentido. Na perspectiva do Kairós, temos como tarefa amar a vida marcada pelo tempo, seja o ser ainda sem as marcas do tempo, como no caso um bebê em gestação, o tempo do adolescente rebelde, o tempo do jovem idealista , o tempo do adulto responsável, e por quê não o tempo na velhice. É aceitar e acolher a vida aos 4 anos, aos 20, aos 40 ou aos 80 anos ou mais de idade.

Estamos, portanto, diante de uma realidade em que temos que optar: viver sob o signo do cronos ou de kairós? Se alguém ou algo é realmente importante, então consequentemente o tempo tem que ser a prioridade, seja no dia a dia de nossas vidas, seja na convivência familiar ou no âmbito profissional. O tempo do encontro torna-se terapêutico quando optamos por vivenciá-lo na dimensão do kairós. Então, sejamos nós profissionais da saúde atuando na emergência, atendendo uma parada cardíaca, ou na UTI, ou em consulta num ambulatório orientando idosos, ou ao lado de quem esteja na fase final da vida, estaremos fazendo diferença, humanizando e sendo humanizados. Assim agindo nos tornaremos mestres do tempo, pois, mais do que acrescentar anos à vida, processo normal do Cronos, estaremos acrescentando vida aos anos, o que significa assumir a dimensão Kairótica, ou seja, de viver em estado de graça.




OS DOIS TIPOS DE TEMPO:CHRONOS E KAIRÓS
CRONOS E KAIRÓS: Repensando a Temporalidade do Currículo

Joe Garcia

Introdução

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a noção dominante de tempo que tem informado o pensamento curricular, em contraposição a uma outra noção, mais qualitativa. Nesta tarefa, vamos recorrer a duas imagens da mitologia grega, Cronos e Kairós, cada qual representando uma dimensão de temporalidade.

O Mito de Cronos

A narrativa mitológica é bastante rica em imagens arquetípicas que oferecem metáforas criativas para pensar a experiência e as relações humanas. Uma dessas imagens, o mito de Cronos, historicamente tem sido associada a uma dimensão da temporalidade humana.

Segundo a mitologia grega (GRIMAL, 1992), Cronos é filho de Urano e Gaia. Urano ocultava sistematicamente seus filhos, ao nascerem, no corpo de Gaia. Revoltada, ela convence Cronos a enfrentar Urano. Ao lutarem, Urano acaba sendo castrado por Cronos, que assume o poder. Ele se casa com Réia e têm vários filhos. Mas, ao tornar-se o soberano, Cronos aprisiona seus irmãos e passa a devorar sistematicamente seus próprios filhos logo após terem nascido, por receio a uma profecia lançada por Urano, segundo a qual Cronos também seria destronado por um filho. Entretanto, um dos filhos de Cronos, Zeus, nasce e refugia-se em uma gruta, onde cresce em segurança. Mais tarde, Zeus enfrenta Cronos, e o faz libertar os outros filhos que havia engolido.

O mito de Cronos oferece elementos simbólicos interessantes a serem explorados para pensar algumas qualidades que o tempo pode assumir, sobretudo como instrumento de poder. A castração de Urano, por exemplo, representa o estancamento da intuição e da criatividade, capazes de antever o futuro. Por outro lado, ao engolir seus filhos, Cronos busca preservar o poder, controlando possibilidades e estabelecendo limites para o futuro. Mas Cronos é incapaz de controlar totalmente as possibilidades do futuro representadas por Zeus, que em silêncio, aguarda uma oportunidade para manifestar-se.

Cronos também representa o olhar crítico daquele que avalia possibilidades e limites. Ele simboliza a percepção ou delimitação das circunstâncias temporais (SULIVAN, 1992). As noções de limitação e delimitação estão em estreita relação com à noção de tempo cronológico.

O currículo pode ser encarado como uma expressão da noção de ordem temporal personificada por Cronos. Ele implica uma delimitação intencional do conhecimento em blocos de tempo, e sua prática articula poder. O currículo vincula o tempo a objetivos, conteúdos, métodos, recursos e avaliação. O planejamento do dia escolar é minucioso, o mesmo ocorrendo com a rotina semanal e o ano escolar. Calcula-se o tempo a ser dedicado a cada aula e assunto, e estipula-se o momento quando o aproveitamento do tempo investido será avaliado. Em síntese, o currículo tem sido informado por um pensamento cronológico, que não deixa escapar um instante sequer sem ser planejado.

Mas a noção de tempo representada por Cronos esgota as possibilidades da temporalidade humana? Vejamos a dimensão temporal simbolizada por Kairós.

Encontro com Kairós

O termo Kairós refere-se tanto a uma personagem da mitologia, quanto uma antiga noção grega para referir-se a um aspecto qualitativo do tempo. A palavra Kairós, em grego, significa o momento certo. Sua correspondente em latim, momentum, refere-se ao instante, ocasião ou movimento que deixa uma impressão forte e única para toda a vida (WEBSTER, 1993).

Na mitologia grega, Kairós é um atleta de características obscuras, que não se expressa por uma imagem uniforme, estática, mas por uma idéia de movimento. Metaforicamente, ele descreve uma noção peculiar de tempo, uma qualidade complementar em relação à noção de temporalidade representada por Cronos.

Kairós refere-se a uma experiência temporal na qual percebemos o momento oportuno em relação à determinado objeto, processo ou contexto. Em palavras simples, diríamos que Kairós revela o momento certo para a coisa certa. Kairós simboliza o instante singular que guarda a melhor oportunidade, ele é o momento crítico para agir, a ocasião certa, a estação apropriada.

Mas Kairós não reflete o passado, ou antecede o futuro. Kairós é o melhor instante no presente. Ele representa um tempo não absoluto, contínuo ou linear, ao contrário do que propõe a concepção newtoniana refletida no tempo cronológico, socialmente estabelecido (ZERUBAVEL, 1982). A dimensão de experiência temporal representada por Kairós instala-se em consonância à totalidade dos elementos individuais envolvidos e à dinâmica de suas relações.


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Sou misterioso, sou muito ligado ás tradições. sonhador da ternura da imaginação e da memória com tenacidade fixa, idealizo as recordações, acontecimentos e sentimentos do passado para me proteger contra as incertezas do futuro. No amor há algo dentro de mim como nos contos de fadas, com a a minha princesa, mas também com uma maldição para combater os monstros ameaçadores. Tento ser um romântico, mergulhando num sonho ideal e inacessível. O meu humor é extremamente mutável e em ocasiões sou rabugento e agressivo, tenho necessidade de auto-defensa (às vezes antes mesmo de ser atacado) é uma das minhas características não muito agradáveis. Oscilo entre o júbilo e a depressão. Ás vezes sou muito fechado. Costumo ser intelectualmente ligado às artes e à poesia.

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