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segunda-feira, novembro 26, 2007

CULTURA E TRADIÇÕES NIPÓNICAS

A religião no Japão

é uma rica trama de tradições e religiões entrelaçadas que vem se desenvolvendo há mais de dois mil anos. Algumas correntes são nativas, outras foram introduzidas ao longo do curso da história. O povo japonês em geral não faz opção entre as diferentes religiões e, como os chineses, participa de várias delas em diversas ocasiões e com diferentes propósitos. Comum a todas elas é a ênfase em encontrar o sagrado na natureza, o respeito pelos ancestrais nas fortes relações familiares, cultos locais e celebrações e a unidade entre a religião e a nação japonesa.


Xintoísmo


A religião nativa do Japão é chamada xintoísmo, que significa "caminho dos deuses". Ela recebeu esse nome no século 6. d.C. para distinguir-se do budismo. No cerne do xintoísmo estão seres divinos ou forças da natureza chamados kamis, cultuados em casa ou em santuários públicos. Há milhares de santuários, desde os grandes de Ise e Izumo, conhecidos nacionalmente, até os menores, encontrados em todas as localidades do Japão. Os fiéis visitam os santuários xintoístas para o culto regular, em festas ou quando querem pedir aos kamis uma graça ou favor especiais. Em todos os casos, o ritual correto é importante para uma comunicação eficaz com os kamis.
Influência Chinesa
A influência chinesa não se restringia ao culto imperial. De tempos em tempos, o budismo chinês dominava a religião japonesa, levando à criação de importantes movimentos e escolas, como Shingon, Terra Pura, Nichiren, Tendai e o zen. Outras vezes dominava o confucionismo ou neoconfucionismo, especialmente na vida pública. Como na China, as pessoas gostavam de participar de diferentes religiões com propostas diferentes: o xintó para nascimentos e casamentos, o budismo para os funerais. No entanto, não faltavam reiteradas tentativas de levar ordem ao cenário religioso e de estabelecer o xintó como religião própria do Japão, ao menos como religião oficial ou do Estado.
As origens do Xintó
As origens do xintó já não podem ser rastreadas; perderam-se na pré-história, emergindo das tradições e práticas das religiões populares japonesas. Registros dos tempos antigos, o Kojiki e o Nihongi só foram compilados no começo do século VIII d.C., já muito influenciados pelas tradições chinesas. Descrevem a criação do cosmo a partir do caos na forma de um ovo que se partiu. Assim como o caminho do kami, o xintoísmo não possui fundador ou cânone de textos sagrados que constituam suas escrituras, assim como nenhum sistema de doutrina fixo ou consensual. Em geral, é visto como uma maneira de manter a sociedade unida por valores e atitudes comuns, sendo os mitos e as práticas religiosas a linha que costura o todo. É uma religião de participação em ritos e festas tradicionais, nos santuários e, por extensão, nos lares. As antigas preces são simples e diretas. Os devotos, nas celebrações da colheita, oram à Grande Divindade Celestial Brilhante que reside em Ise: "Como abençoaste o reino do soberano, fazendo-o longo e duradouro, curvo-me como um cormorão à procura de peixe para adorar-te e louvar-te em meio às abundantes oferendas a ti".
Recorrendo aos Deuses
A religião japonesa é uma rica textura de tradições diferentes, em que os kami, os Budas e os bodhisattvas estão extremamente próximos da vida cotidiana. Os japoneses conversam naturalmente com essas figuras e as fazem participar de suas vidas. Quando vão a um santuário xintoísta e escolhem um número, recebendo um papel com um conselho, advertência ou bênção, não é uma questão de sorte: os kami estão tão próximos que conhecem as necessidades de cada pessoa e direcionam a escolha. Muitas dessas figuras têm funções específicas, como Jizo, Fudo, que protege do perigo, ou Yakshi, que cura mente e corpo. Os japoneses não necessitam optar por determinada religião para se dirigir aos deuses: todos estão igualmente disponíveis, tanto que de tempos em tempos tenta-se mostrar que as figuras de uma religião pertencem verdadeiramente a todas.

Rituais e Festas

O culto japonês pode ser sintetizado na palavra matsuri, vinda de um verbo que significa "entreter" ou "atender". Passou então a significar "servir ao kami", ou a uma pessoa com autoridade, ou às almas que partiram. Matsuri implica, assim, uma atitude de respeito e obediência e uma disposição para ouvir e obedecer. Na religião japonesa, o matsuri pode ser público ou privado. Em público, expressa-se nos muitos festivais realizados nos santuários, onde o kami é recebido como convidado de honra e reverenciado com atos rituais de ação de graças. Os santuários diferem entre si pela sua história, pelo kami que honram e santificam e pela natureza dos rituais que realizam, mas muitos deles compartilham a crença de que os kami são revitalizados nos santuários, especialmente no ano-novo.



Os eventos anuais e sua origens
Nipônicos festejam acontecimentos característicos de cada estação
(
O calendário de eventos anuais do Japão é uma das maneiras de se perceber como os japoneses valorizam a tradição. Com isso, distingue-se as comemorações anuais em dois grupos: o kokumin no shukujitsu (feriados nacionais) e o nenchugyôji (calendário de eventos anuais). Este, mais cultural, abrange desde os eventos comuns no mundo inteiro, como o ano-novo (Oshogatsu), Dia das Crianças (Tango no Sekku), Finados (Obon), até os mais característicos nipônicos, como o Tanabata, o Shichi-go-san, Hana matsuri, entre outros (veja quadro).
Algumas comemorações do calendário nenchugyôji remontam aos tempos antigos, como o Tanabata (Festival das Estrelas). De origem chinesa, esse festival já participava do calendário de eventos da Era Heian (794~1185). Outra comemoração realizada no passado, mas que, com o passar do tempo, ficou restrita ao mês de fevereiro, é o setsubun. Antigamente, o setsubun (Cerimônia para semear grãos de soja) marcava a passagem das estações do ano, porém, atualmente, marca somente a chegada da primavera. Além dessa, o Tango no Sekku (Dia das Crianças) também remonta à Antiguidade e, embora seja considerado o Dia das Crianças hoje, era, a princípio, voltado apenas para os meninos. Entretanto, o símbolo continua o mesmo: na referida data, costuma-se hastear os koinobori (flâmulas de papel ou pano em forma de carpa), confeccionados pelas famílias que possuem um menino, representando sorte e boa saúde aos garotos. Escolheu-se a carpa devido à sua capacidade de vencer obstáculos naturais.
A maioria dos eventos anuais está ligada à admiração dos japoneses pela natureza. Com estações do ano bem definidas, o seu povo costuma festejar um acontecimento característico de cada estação.

Calendário das Festividades

Nara Yamayaki: Durante o mês de janeiro, no crepúsculo, o gramado da colina de Naga é queimado por pessoas usando roupas de monges guerreiros, para celebrar a solução de uma disputa entre dois templos locais.

Kasuga Matsuri: Realizada em março para a divindade do santuário de Kasuga, apresenta danças rituais.

Kanda Matsuri: Os budistas fazem oferendas simbólicas, como flores, velas e incenso, em templos e santuários. As flores simbolizam a natureza fugaz da vida terrena; a chama de uma vela representa a luz da iluminação; o aroma do incenso reflete a expansão do dharma (verdadeira realidade).

Gion Matsuri: Ocorre em Quioto, no mês de julho. Desfilam grandes carros alegóricos com músicos e carros alegóricos menores com quadros vivos de personagens históricos e mitológicos.

Nebuta Matsuri: Associado ao festival Bon, de agosto, no Nebuta desfilam carros alegóricos de papel de gente famosa, acompanhados por cantores e dançarinos.

Chichibu Yo Matsuri: Realizado em dezembro para honrar as divindades Chichibu, este festival exibe pirotecnias e um desfile de carros alegóricos.


JANEIRO – 1º/1
Oshogatsu: é com a saudação “Shin’nen akemashite omedetou gozaimasu” que os japoneses celebram o oshogatsu, isto é, o ano-novo. Neste dia, os correios entregam os nengajô (cartões de felicitação) a seus destinatários, os pais entregam aos filhos os otoshidama (presente em dinheiro) e são preparadas comidas típicas como o ozouni. Na virada do ano-novo as famílias fazem o hatsumôde, isto é, a visita a um templo xintoísta ou budista durante o ano-novo.
FEVEREIRO – 3/2 ou 4/2
Setsubun: dizendo a frase “Fuku wa uchi! Oni wa soto!” os japoneses simbolicamente semeiam grãos de soja no interior das residências para afugentar os maus espíritos e chamar a boa ventura. A tradição remonta a um hábito da família imperial chamada tsuina, que ocorria na véspera do equinócio de primavera. Atribui-se ao vigor da soja, que cresce rapidamente, o poder de espantar os maus espíritos.
MARÇO – 3/3
Hina Matsuri: também chamado de momo no sekku, o hinamatsuri (Festival das Bonecas) é a data festiva para pedir o crescimento saudável e feliz das filhas. Na Era Heian, as famílias da nobreza japonesa iniciaram a prática do nagashibina, isto é, faziam bonecas simples e as depositavam nos rios e nos mares, pedindo que levassem consigo as doenças e os males que estivessem destinados às meninas. Entretanto, as crianças da família imperial passaram a brincar com bonecas mais elaboradas que, em pouco tempo, tornaram-se tão complexas que começaram a enfeitar os aposentos. A partir da Era Edo são montados os hinadan, estrados com vários andares sobre os quais são dispostas as bonecas.
ABRIL – Início de abril
Ohanami: uma das árvores mais tradicionais do Japão é o sakura, (cerejeira), cujas floradas são apreciadas pelos japoneses. Para tanto, há até um calendário oficial com a previsão da floração em cada região do país. Esse costume também surgiu na Era Heian, quando os nobres se reuniam sob as cerejeiras para compor poemas e cantar. Essa tradição chegou à população durante a Era Edo e, desde então, são realizados piqueniques e eventos diversos sob a “chuva de pétalas de sakura”. Nesta mesma época, no dia 8 de abril, é comemorado o aniversário de Buda (hana matsuri).
MAIO – 5/5
Tango no Sekku: este festival, conhecido como Dia das Crianças, era realizado exclusivamente para pedir o crescimento saudável dos filhos do sexo masculino, mas após a Segunda Guerra Mundial, ganhou conotação mais ampla. Na Antiguidade, esta data era comemorada na China como o dia da prevenção contra os males. Como parte dos rituais, eram colhidos os shôbu (iris laevigata) para se preparar banhos aromáticos. No Japão feudal, esse costume ganhou maior importância porque o nome dessa planta, em japonês, tem o mesmo som da palavra “batalha”. Assim, os samurais acreditavam que as folhas desse vegetal trariam vitória e sorte.
JUNHO – 1º/6 e 1º/10
Koromogae: conforme a mudança climática, hoje, os dias 1º de junho e 1º de outubro, são as datas para a troca de roupas e uniformes dos japoneses, com modelos de verão e de inverno. Na Antiguidade japonesa, os quimonos de verão eram vestidos a partir do dia 1º de abril; e os de inverno, a partir do dia 1º de outubro. Já na Era Edo, a data passou a ser 9 de setembro. Ainda hoje, o koromogae pode ser visto na troca dos uniformes de estudantes, bancários, motoristas de ônibus, policiais, etc.
JULHO – 7/7
Tanabata: conhecido como “Festival das Estrelas”, tem sua origem na celebração do deus da água (Mizu-no-Kami) no dia 7 de julho. Nesta data, as tecelãs chamadas de tanabatatsume dedicavam-se a tecer, por uma noite a fio, um pano como oferenda para proteção contra doenças. Na China, na mesma data, acontecia algo semelhante. As tecelãs pediam habilidade na tecelagem e no bordado à estrela tecelã Vega, separada pela via-láctea de seu amante Altair. Essas estrelas só podem ser vistas juntas no Hemisfério Norte na noite de 7 de julho. Na Era Edo iniciou-se o costume de escrever poemas e pedidos nos cartões chamados tanzaku, que são pendurados em ramos de bambu.
AGOSTO – 13 a 15/8
Obon: O discípulo de Buda chamado Mokuren tinha o poder de vislumbrar o mundo dos mortos, onde descobriu a condição sofrida por sua mãe. Ele consultou Buda, que o instruiu a reunir um grande número de monges para fazer a maior oferenda possível a fim de salvá-la. Mokuren teria iniciado a dança que ficaria conhecida como Bon Odori, tornando-se o principal culto aos antepassados. Entre os dias 13 e 15 de agosto, acende-se o fogo sagrado (mukaebi) em frente às residências ou às margens dos rios para acolher as almas.
SETEMBRO – Fim do mês
Otsukimi: No fim do mês de setembro, a lua apresenta-se ainda mais pujante no Hemisfério Norte. Em agradecimento às boas colheitas, os japoneses ofereciam os frutos do penoso trabalho no campo à lua. Porém, o otsukimi não se restringia aos camponeses. A família imperial também apreciava a lua, enquanto seus membros cantavam ao som do koto e do shakuhachi.
OUTUBRO
Kaminazuki: o mês de outubro é conhecido pela ausência de divindades. Segundo a tradição xintoísta, neste mês, os deuses se reúnem no Grande Santuário de Izumo, sudoeste do Japão, dedicado à divindade Ôkuninushi-no-Mikoto e, por isso, não há motivo para festividades.
NOVEMBRO – 15/11
Shichi-go-san: é a visita aos santuários xintoístas das crianças de 3, 5 e 7 anos, em agradecimento pelo crescimento até então saudável, pois, antigamente, a taxa de mortalidade infantil era alta. Na Era Edo, o shichi-go-san passou a ser reconhecido como um ritual de passagem.
DEZEMBRO – 31/12
Toshikoshi: é a comemoração do último dia do ano. Nesta data se faz o ôsôji, isto é, a limpeza das casas japonesas. Este ritual também é chamado de susuhaki. São preparadas as refeições típicas da véspera do ano-novo.




Um grande senso de humor
Enquanto nossa vida material no século XXI foi favorecida por muitos avanços na ciência e na tecnologia, nossa mente espiritual se atrofiou. Enquanto nosso desejo de bons alimentos foi satisfeito, nossa sabedoria inerente foi guardada a sete chaves.
Na sociedade atual, um grande senso de humor é o fundamento para uma vida feliz, o lubrificante para um relacionamento de sucesso. Somente por meio do humor podemos ser encantadores e espirituosos. Somente por meio do humor teremos sabedoria e habilidade para apreciar o que é divertido ou engraçado.
Devemos ter em mente, no entanto, que humor não é sinônimo de sarcasmo – ao contrário, é uma linguagem de sabedoria. O humor é infinito em sua profundidade e inspiração. Humor não é escárnio, mas um veículo para a troça de si mesmo. Um gesto humorístico carrega uma quantidade imensurável de afeição e interesse genuínos.
Influência positiva
A intenção do humor não é recorrer a atrevimento para criar constrangimento para os demais, mas trazer-lhes felicidade, aliviando ou dissolvendo momentos embaraçosos. Assim, ter grande senso de humor é ser dono de uma mente iluminada, plena de engenho, vivacidade e inteligência. É verdadeiramente um estado mental de insuperável libertação, sem apegos ou preocupações. É uma atitude de completo otimismo, em que todas as coisas passadas e presentes podem ser humoristicamente percebidas.
O humor é como a primavera nas montanhas: purifica nossa mente. Como uma nuvem no céu: pode vagar livremente, sem obstrução. Na sociedade atual, as pessoas perderam sua singularidade e a habilidade de pensar por si mesmas. Em lugar de conduzir, preferem seguir. Em lugar de exercitar a liberdade intelectual, preferem aceitar as decisões alheias. É a sociedade como um todo, e não o indivíduo, que decide o padrão de moralidade. Sendo assim, é fundamental ter grande senso de humor em nossas relações interpessoais, porque o humor é como os raios de sol, que podem iluminar nosso dia e trazer um sorriso à nossa face. Às vezes, o humor é como uma brisa suave, que conforta a dor e o sofrimento. O humor é também como uma flor em botão na primavera, que acalenta o coração e desperta a mente.
Deveríamos nos esforçar para ser como Charles Chaplin, que trouxe o riso a milhões de espectadores de cinema ao redor do mundo com seu gênio para a comédia. Ele influenciou positivamente a vida de muita gente apenas com seu senso de humor.
Muitos monges budistas eminentes foram donos de notável senso de humor. A literatura chinesa contemporânea não é exceção. Muitos autores têm a fantástica habilidade de retratar seus temas com veia humorística, sem perder sua integridade. Seu senso de humor é atraente e gracioso, o que dá aos leitores uma refrescante sensação de pureza. Enquanto lutamos por paz e felicidade verdadeiras em nossa sociedade, nos encontramos em desesperada carência de mestres comediantes, os quais poderiam enriquecer o mundo atual com seu grande senso de humor.


Kannon, a deusa da Misericórdia
Há muitos e muitos anos, havia uma mocinha meiga e delicada em uma pequena aldeia japonesa. Com a morte de seus pais, ela vivia sozinha e contava com a ajuda dos aldeões para sobreviver. Porém, sentia-se muito sozinha e, em suas orações, vivia perguntando à deusa Kannon se um dia ela voltaria a ter uma família.
Um dia, ao sair de casa, encontrou um monge budista muito pálido, caído do outro lado da rua, em frente à sua casa.
– Monge, o que o senhor tem? – perguntou a menina, colocando a mão na testa do rapaz.
– Nossa, tem febre alta! – disse para si mesma.
Com muito esforço, a mocinha arrastou o monge para dentro de sua casa. Em seguida, acomodou-o em um dos quartos e resolveu fazer um mingau de arroz para o religioso, que estava muito debilitado. Mas, na cozinha, viu que o cereal tinha acabado. Foi, então, à casa vizinha para conseguir um pouco de arroz.
– Desculpe-me, vizinha, a senhora pode me dar um pouco de arroz?
– Claro, mas quero que me ajude quando eu for plantar as mudas de arroz.
– Sim, pode contar com minha ajuda.
A garota foi à outra casa na vizinhança e pediu:
– O senhor teria algum remédio para febre? Será que poderia me dar um pouco?
– Sim, naturalmente, mas, por favor, no dia do plantio das mudas de arroz, quero que me ajude.
– Está bem, agradeço pelo remédio.
Assim, visitou várias casas para conseguir missô (pasta de soja para fazer sopa), tofu (queijo de soja), peixe, vegetais, leite e assim por diante.
Dessa forma, visitou 20 casas, nos três dias em que o monge ficou acamado. Em todas elas, os aldeões pediram à menina que os ajudasse no dia de plantação de mudas de arroz.
Quando o monge já havia recuperado a saúde e partiu para continuar sua peregrinação, deu a menina uma estatueta.
– Obrigado por seus cuidados amáveis. Agora estou muito bem e vou lhe dar esta deusa Kannon (deusa da Misericórdia) como símbolo da minha gratidão.
Uma semana depois, um vizinho avisou a garota:
– Amanhã é o dia em que minha família vai plantar mudas de arroz. Vamos esperar sua ajuda. Assim, um após outro, os lavradores vieram trazendo o mesmo recado. No total, 20 vizinhos disseram a mesma coisa: “Amanhã conto com sua ajuda”.
– Oh, que devo fazer? Eu não posso ajudar os 20 vizinhos a plantar mudas ao mesmo tempo. Deusa Kannon, ajude-me, por favor. O que devo fazer, afinal? Assim, rezou com grande fervor diante da pequena estátua de Kannon.
Enquanto isso, o monge também rezava por ela no alto de uma montanha. De repente, um clarão surgiu no ar e uma bela figura da deusa Kannon apareceu.
– Ouça-me, monge. Neste momento, a menina que lhe ajudou está com sérios problemas. É a sua vez de ajudá-la. Leve consigo 19 garotas para a aldeia dos plantadores de arroz – dizendo isso, a deusa da Misericórdia desapareceu.
O monge visitou várias casas da cidade vizinha, perguntando em cada uma se não tinha alguma jovem que pudesse ajudar na plantação das mudas de arroz. Assim, conseguiu várias mocinhas dispostas a ajudar na plantação.
Na véspera do dia de plantar arroz, a menina ajoelhou-se diante da estatueta de Kannon e rezou:
– Eu não posso ajudar todos ao mesmo tempo. Então, terei que optar por ajudar um dos vizinhos. Se eu trabalhar duramente, é certo que a deusa Kannon vai me ajudar.
Nessa noite, choveu bastante, e amanheceu chovendo no dia seguinte. A menina levantou cedo e bem disposta. Apanhou um chapéu de mino (palha) e um mino-kasa (capa de palha de arroz) e saiu em direção à horta, que ficava no final da aldeia.
Para ela, toda a vizinhança era muito boa, porém, foi trabalhar na última horta da aldeia, porque ali havia um rapaz de quem ela gostava muito. Enquanto isso, o monge e as 19 garotas, igualmente vestidas com chapéu e capa de palha, chegaram à aldeia e se dirigiram cada uma para uma horta. Assim, todas ajudaram na plantação de mudas de arroz, que no Japão é quase um ritual.
No final do dia, com a missão cumprida, cada aldeão agradeceu a respectiva menina pela ajuda. O monge havia ficado na casa da menina, rezando para a estatueta da deusa Kannon.
Quando a noite vinha chegando, a menina voltou para casa, e as 19 meninas e o monge retornaram à aldeia vizinha.
Na manhã seguinte, conforme costume local, os 20 aldeões vieram agradecer, trazendo um presente como símbolo de gratidão.
– Muito obrigado pela ajuda de ontem! – disseram todos eles.
Ela não entendeu direito o que tinha acontecido, porém, vendo que a estatueta da deusa Kannon estava molhada, agradeceu a ela, dizendo:
– Muito obrigada, deusa Kannon, não sei exatamente como, mas tenho a impressão que você plantou as mudas de arroz no meu lugar. Ajoelhada em frente à estátua, a menina agradeceu profundamente.
Nesse momento, apareceu por lá o rapaz que tinha a última horta da aldeia.
– Vim agradecer pela ajuda de ontem e dizer que tenho mais um pedido a lhe fazer.
– Sim, pode dizer...
– Quero pedir que se case comigo.
A garota olhou para a deusa Kannon, e ela estava sorrindo.

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Sou misterioso, sou muito ligado ás tradições. sonhador da ternura da imaginação e da memória com tenacidade fixa, idealizo as recordações, acontecimentos e sentimentos do passado para me proteger contra as incertezas do futuro. No amor há algo dentro de mim como nos contos de fadas, com a a minha princesa, mas também com uma maldição para combater os monstros ameaçadores. Tento ser um romântico, mergulhando num sonho ideal e inacessível. O meu humor é extremamente mutável e em ocasiões sou rabugento e agressivo, tenho necessidade de auto-defensa (às vezes antes mesmo de ser atacado) é uma das minhas características não muito agradáveis. Oscilo entre o júbilo e a depressão. Ás vezes sou muito fechado. Costumo ser intelectualmente ligado às artes e à poesia.

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