
Um dia após a nomeação de Herman van Rompuy para a presidência da União Europeia ter suscitado uma maré de críticas à falta de carisma e de experiência do primeiro-ministro belga, o descontentamento cresceu depois de alguns jornais divulgaram o vencimento milionário que receberá no cargo: nada mais nada menos do que 395 mil euros anuais, valor superior, segundo o ‘Daily Express’, ao auferido por Barack Obama.
“É um peso intolerável na bolsa dos contribuintes para pagar a um burocrata não eleito”, considerou o eurocéptico britânico Nigel Farage, líder do Partido da Independência (UKIP).
Acresce que o presidente europeu terá 22 colaboradores e será escoltado por dez seguranças. Ou seja, o seu cargo custará por ano seis milhões de euros aos contribuintes.
Além de Rompuy, a escolha da britânica Cathy Ashton para liderar a diplomacia europeia reforçou o desconforto com as nomeações para os mais altos cargos da UE. É que Ashton, além de ser uma desconhecida no seu próprio país, tem limitada experiência diplomática, adquirida desde que em Outubro de 2008 se tornou comissária europeia do Reino Unido, rendendo Peter Mandelson.
O facto de os cidadãos não terem uma palavra a dizer sobre os seus líderes é um exemplo dos caminhos perigosamente antidemocráticos que a UE está a seguir, alertam os críticos. “Isto faz lembrar a forma como eram escolhidos os líderes na China comunista ou na antiga Jugoslávia”, lembrou Douglas Carswell, deputado conservador do Reino Unido.
Para os mais pessimistas, os novos rostos da UE provam ainda outra coisa: a falta de ambição europeia. Esse facto tinha já sido sublinhado aquando da recondução de Durão Barroso, e é justamente este quem agora tem mais razões para estar satisfeito, refere o ‘The Times’. Para este jornal, o “maçador” Rompuy e a descolorida Ashton são figuras ideais, do ponto de vista de Barroso, pois são incapazes de lhe fazer sombra.
CUSTOS DO CARGO
SALÁRIO BASE MENSAL
21 875 €
como primeiro-ministro belga auferia 11 040
SALÁRIO ANUAL
395 000 €
bem acima dos cerca de 270 000 de Barack Obama
SUBSÍDIOS
900 000 €
para despesas de representação, 27 000 para despesas pessoais e 64 000 para viagens. Contará ainda com 22 colaboradores.
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Partida de Rompuy deixa belgas à deriva
Rei Alberto II iniciou conversações com líderes políticos para tentar formar um novo Executivo em Bruxelas. Uma tarefa complexa num país que já esteve 11 meses sem Governo. Yves Leterme pode regressar ao cargo de primeiro-ministro.
Herman van Rompuy, o actual primeiro-ministro belga, foi designado pelos líderes da União Europeia (UE) para ocupar pela primeira vez o posto de presidente permanente do Conselho Europeu. Yves Leterme, que foi forçado a renunciar ao cargo de primeiro-ministro da Bélgica por causa do Fortisgate, parece ter, um ano depois, o caminho livre para regressar à cabeça do Governo. Na Bélgica, há uma espécie de sentimento misto já que a demissão de Herman van Rompuy do lugar de chefe do Governo belga deixa de novo a política interna à deriva depois de este ter restaurado um clima de estabilidade governativa em apenas 11 meses. O Rei Alberto II está agora em busca de um primeiro-ministro que mantenha o trilho que só Rompuy foi capaz de garantir desde as eleições de Junho de 2007. Leterme surge como uma solução de 'continuidade' e de 'estabilidade': a coligação governamental pretende manter o acordo de governo firmado entre os cinco partidos mais votados em 2007, explicou ontem Didier Reynders, presidente do Movimento Reformador, partido liberal francófono e ministro das Finanças.
Yves Leterme demitiu-se em Dezembro do ano passado depois de terem surgido suspeitas de pressões do seu Governo sobre os magistrados que apreciavam o caso patrocinado pelos accionistas do Fortis Bank, o principal banco belga e o segundo maior na Holanda. O Governo belga tinha anunciado a venda dos activos do Fortis ao BNP Paribas e o tribunal acabou por deliberar a favor dos accionistas que pediam para serem consultados. O presidente do tribunal de cassação chegou a admitir haver "indicações importantes" sobre alegadas tentativas de pressão de colaboradores de Leterme para impedir tal decisão.
Van Rompuy foi recebido por Alberto II ao início da manhã de ontem, não tendo ainda entregue o seu pedido de demissão. Durante o resto do dia, o Rei recebeu os líderes dos cinco partidos que compõem a coligação governamental belga. A chefia do Governo deverá continuar a pertencer ao partido democrata-cristão, o CD&V, o mais votado, e assim "é Yves Leterme quem deverá assumir o posto", conta uma fonte daquele partido flamengo.
De acordo com a tradição política na Bélgica, a seguir à demissão do primeiro-ministro é o próprio Governo em peso que deverá também ceder o lugar. Ainda assim, a coligação da maioria deverá manter-se em funções e muitos dos nomes que hoje detêm as pastas ministeriais. A transição pode simplesmente desenrolar-se através de decretos reais que oficializem as mudanças no Governo. Neste cenário, não será necessário que o monarca escolha um novo "formador", a designação dada a quem é confiada a tarefa de compor um novo Governo e cuja responsabilização cabe a Alberto II. Joëlle Milquet, a líder do CD&V, disse mesmo, ontem, que "só é preciso substituir uma pessoa", o primeiro-ministro. Elio di Rupio, presidente dos socialistas francófonos, disse ainda que "todos querem a continuidade", o que sustenta o regresso de Leterme.
A situação deve, no entanto, clarear entre os próximos dias e o Natal. Espera-se uma demissão oficial da parte de Herman van Rompuy no início de Dezembro. O ainda primeiro-ministro belga assume a presidência permanente do Conselho Europeu a 1 de Janeiro de 2010.
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