
Uma equipa de físicos liderada pela dinamarquesa Lene Hau, da Universidade Harvard, anunciou hoje ter conseguido fazer desaparecer um feixe de luz e fazê-lo reaparecer noutro local no espaço, uma experiência efectuada com os princípios da física quântica com o auxílio dos chamados condensados de Bose-Einstein, ou BEC (na sigla em inglês).
Aqueles objectos são aglomerados de matéria arrefecidos a temperaturas tão baixas que se comportam como um novo e singular estado da matéria. Todos os seus átomos agem coordenadamente, como se fossem um único «super-átomo».
Hau já tinha conseguido, há dois anos, fazer um raio de laser desacelerar e parar dentro de um condensado de Bose-Einstein de sódio. Agora anunciou que pode «ressuscitar» a mesma luz que tinha aniquilado - um feixe com as mesmas características daquele que tinha sido congelado - num outro bloco de condensado.
«Fizemos isso criando uma ´cópia` do raio de luz feita de matéria, que pôde então viajar no espaço livre entre os dois condensados», disse Hau à Folha de S.Paulo. «Quando ela entra no segundo condensado, podemos reavivar o raio de luz», afirmou.
Num estudo na revista Nature, Hau descreve como um átomo contendo a informação luminosa viajou entre os dois condensados por 16 centésimos de milímetro, o que constitui uma longa distância do ponto de vista da física quântica.
A maior contribuição do «truque» de Hau para a ciência é ajudar os físicos a compreenderem melhor a natureza quântica.
A investigadora adiantou que o seu trabalho é financiado pela Força Aérea dos EUA, pela Nasa e pela Fundação Nacional de Ciência, devido ao potencial de aplicação que tem a longo prazo.
No horizonte do laboratório de Hau estão a criptografia (criação de informação para transmissão em códigos secretos) e a computação quântica, o «Santo Graal» da informática, adianta o jornal.
Por enquanto, os computadores quânticos existem apenas em teoria, mas se os cientistas forem capazes de fabricá-los serão máquinas com o poder de processamento maior que o de qualquer super-computador actual.