
Nos últimos dois meses perguntamos aos internautas do que eles têm medo. e medo de que? Esta era a pergunta a ser respondida e foi visualizada 291.964 vezes. Ao todo, 5.879 usuários deram sua opinião sobre o que mais temiam. Contrair uma doença grave é disparado a maior fonte de medo, com 40% dos votos. Outra questão que perturba os internautas é o bolso, 24% disseram que sua maior fobia é contrair dívidas. Falar em público é o terceiro item de maior repulsa. Afirmaram ter medo de falar diante de uma plateia 1.235 pessoas. O medo é um sentimento natural e necessário. O problema é quando ele começa a causar sofrimento e a prejudicar sua vida e sua carreira.
A fisiologia do medo*
Toda e qualquer emoção tem uma representação no cérebro, que é mediada por neurotransmissores, entre eles a noradrenalina, a serotonina e a dopamina. A fisiologia do medo se inicia nas amígdalas (estruturas que nada têm a ver com as da garganta), que têm o formato de uma noz e ficam próximas à região das têmporas. Elas identificam uma situação ou objecto do qual se deve tomar cuidado e enviam ao hipotálamo o sinal para a produção dos neurotransmissores. A partir daí, começam as reacções no organismo que nos deixam em estado de alerta para agir, enfrentando ou fugindo da situação.
A maior parte dos medos relacionados ao dia-a-dia no trabalho faz parte de um dos grupos mais comuns de fobias, chamadas de sociais. Nada mais são do que o medo de outras pessoas. O fóbico social tem dificuldade de se relacionar, não consegue olhar nos olhos do seu interlocutor, conversar naturalmente com seus superiores, falar em público, apresentar ideias ou sugestões em reuniões de trabalho, compartilhar tarefas. "A característica mais marcante desse tipo de fobia é o medo que a pessoa tem do julgamento dos outros", afirma o médico Tito Paes de Barros Neto, autor do livro Sem Medo de Ter Medo (Editora Casa do Psicólogo). "O fóbico social geralmente é muito perfeccionista. Como é impossível agradar a 100% das pessoas, ele prefere se omitir". Dessa forma, não se expõe em reuniões, não faz apresentações em público, não contesta a ideia dos outros. Isso vai prejudicando o desempenho no trabalho e pode comprometer seriamente sua carreira.
De onde vêm as fobias*
É comum as pessoas acreditarem que os traumas têm grande influência no desenvolvimento de fobias, mas isso não costuma ser verdade. "Somente em 20% dos casos é possível encontrar algum trauma que justifique o surgimento da fobia", diz Barros Neto. "Mas há quem defenda a tese de que esse trauma já é a primeira manifestação fóbica da pessoa". A predisposição genética, por sua vez, é um factor importante, embora não seja assim tão relevante no caso das fobias sociais. Nas fobias específicas, como medo de sangue, agulhas ou animais, há identificação de histórico familiar em cerca de 70% dos casos. Já nas sociais, são poucos os casos de traumas anteriores.
Os factores que estão mais directamente associados ao desenvolvimento desse tipo de fobia são basicamente três: ambientais (como doenças na infância ou isolamento da criança), educacionais (pais que educam os filhos com excessiva preocupação sobre o que os outros vão pensar do comportamento deles) e modelação (quando os pais têm algum tipo de fobia social e a criança aprende a se comportar de maneira igual). Outra possibilidade são as lesões nas amígdalas provocadas por traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais e tumores.
Os prejuízos do medo não se limitam apenas ao profissional. As empresas também perdem muito. O fóbico social geralmente cuida exaustivamente de cada detalhe de seu trabalho. Revisa tudo várias vezes e sempre pesa os prós e os contras. Com tanto esmero, as oportunidades de que tudo saia exactamente como ele planejou são grandes. A possibilidade de erro é mínima. Só que quem sofre desse tipo de fobia não tem coragem de dar o chamado pontapé inicial. E aí, ideias que poderiam ser a tão esperada solução para a organização ficam eternamente guardadas na gaveta. "É comum esse profissional esperar que os outros venham até ele para descobri-lo, mas nem sempre isso acontece", diz a psicóloga Neuza Corassa.
A melhor forma de superar o medo é enfrentá-lo, por pior que isso possa parecer. O tratamento de fobias geralmente é baseado na exposição da pessoa a situações ou objectivos que ela teme. É claro que isso não é feito de maneira brusca. Os especialistas geralmente vão dosando essa aproximação. Se a pessoa tem medo de falar em público, por exemplo, o psicólogo pode começar fazendo o paciente imaginar que está falando com um grupo de amigos ou mesmo fazendo uma apresentação em público. Aos poucos, ele pode orientá-lo a falar realmente com esses amigos, fazer apresentações para a família e enfrentar reuniões com poucos participantes. O passo seguinte será falar para grupos maiores, até chegar o momento de encarar um auditório lotado.
Saiba como vencer o medo*
Bastam alguns cuidados para não deixar o medo e a ansiedade prejudicarem seu desempenho numa reunião ou apresentação no trabalho.
• Prepare-se com antecedência: vá para o evento com o máximo de informações possíveis
• Cheque todos os dados quantas vezes achar necessário
• Faça um roteiro e procure segui-lo
• Se não se sentir seguro, simule uma apresentação para sua família ou fale diante do espelho observando seus gestos e entonação de voz
• Use e abuse de material e equipamentos de apoio para ajudá-lo a não perder o foco, como telões, gráficos, tabelas, projectores etc.
• Se possível, faça o reconhecimento do local um ou dois dias antes
• Tenha consciência de que é impossível agradar a todos que irão ouvi-lo
• Antes de entrar em cena, procure relaxar. Você pode ouvir música, fazer exercícios respiratórios, rezar, meditar. Isso vai reduzir a ansiedade.
• E acima de tudo: enfrente o medo