
A menstruação é uma manifestação natural e necessária ou pode ser eliminada? Uma nova pílula, que espera aprovação nos Estados Unidos, relançou uma velha questão que faz parte do quotidiano de todas as mulheres. Os médicos consideram que ausência de menstruação não traz qualquer problema, mas há outras vozes que alertam que muitas mulheres precisam da pílula para ter os sinais de que tudo funciona correctamente.
O debate sobre o fim da menstruação está lançado. A farmacêutica Wyeth está à espera que a Food and Drug Administration - entidade que regula o mercado norte-americano do medicamento - aprove a introdução da nova pílula (Lybrel) no mercado, mas já calcula vendas na ordem dos 250 milhões de dólares por ano. Miguel Oliveira da Silva, professor de Ética Médica da Faculdade de Medicina de Lisboa, prevê que esta pílula "não vai ser a número um em Portugal, mas é previsível que entre 10% a 15% das mulheres venham a adoptá-la".
De acordo com a Wyeth, dois terços das mulheres estariam dispostas a eliminar a menstruação só para fintar as habituais dores generalizadas e de cabeça, inchaços, mau humor, e outros sintomas. Carlos Calhaz Jorge, ginecologista e obstetra do Hospital de Santa Maria, não vê problemas na ausência de menstruação: "Não tem qualquer significado. A menstruação é uma manifestação culturalmente aceite e que mostra que estão a ocorrer fenómenos cíclicos e que se está a ovular", explica.
A actual pílula contraceptiva (que não interrompe a menstruação) já envia uma mensagem 'falsa' ao cérebro. A combinação de estrogénios e de progesterona engana a hipófise (no cérebro), transmitindo-lhe a mensagem de que já ocorreu a ovulação. A interrupção da toma da pílula baixa os valores das hormonas o suficiente para provocar a hemorragia.
A menstruação provocada acaba também por ser falsa. No entanto, responde à necessidade que a maior parte das mulheres têm de saber que o organismo está a funcionar normalmente. Além disso, é prova de que não estão grávidas.
Por essa razão, o obstetra Miguel Oliveira da Silva considera importante referir que "nem todas as mulheres vão aceitar bem a nova pílula. Para muitas, a menstruação está associada a uma série de mitos: é uma limpeza, a saída de sangue impuro". A pílula Lybrel será o somatório de etinilestradiol e levonorgestrel, uma combinação de "duas substâncias que já existem, mas que agora têm um peso diferente", explica Miguel Oliveira da Silva. A diferença é que, com o fim da interrupção de sete dias, a dosagem pode ser reduzida, justifica o obstetra.
Riscos e efeitos secundários
O que tem preocupado a comunidade científica são os riscos associados à eliminação das pausas. "Os riscos existem em tudo, mas a associação norte-americana não iria aprovar um fármaco que fosse inseguro." E tendo em conta a semelhança das substâncias activas, Oliveira da Silva espera que "os efeitos secundários sejam semelhantes aos das pílulas anteriores".
Uma endocrinologista espanhola, envolvida num programa dedicado à mulher e qualidade de vida, afirmou ao jornal La Vanguardia que "descansar é o mesmo que não descansar, em termos metabólicos, e que a menstruação não é natural, mas uma perda de sangue". No entanto, adverte, "o ciclo não envolve apenas o útero, mas o corpo todo". Em relação às preocupações sobre a dificuldade em engravidar, há médicos que referem que gravidez pode demorar um a três anos; outros, falam em três meses.
Cancro do colo do útero ou do endométrio, obesidade, doenças do foro cardíaco ou auto-imunes, podem ser consequências do tratamento hormonal tradicional, em casos prolongados. Ainda assim, "os riscos são difíceis de avaliar", refere Carlos Calhaz Jorge. A ordem de grandeza destes problemas seria sensivelmente a mesma. Resta avaliar o impacto que os novos tratamentos vão ter na qualidade de vida das mulheres, nomeadamente na libido, níveis de colesterol ou lípidos.
A entrada em Portugal deste novo tratamento ainda não tem data prevista, mas Miguel Oliveira da Silva não tem dúvidas quanto à sua aprovação nos Estados Unidos. "É claro que vai ser aprovado. E a partir do momento em que tiver autorização virá rapidamente para a Europa e para Portugal", garante.
No entanto, Carlos Pires , assessor do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed), disse ao DN que a Wyeth "ainda não fez qualquer pedido com vista à comercialização do medicamento".
Uma nova pílula, que permite eliminar a menstruação, foi desenvolvida nos EUA, pela farmacêutica Wyeth. A «Lybrel» utiliza uma combinação de duas substâncias já existentes nas pílulas tradicionais, o etinilestradiol e o levonorgestrel, que eliminam a hemorragia do quotidiano feminino.
A Wyeth espera só a que a entidade que regula o mercado farmacêutico norte-americano, a Food and Drug Administration, aprove a comercialização da pílula. A farmacêutica divulgou que cerca de dois terços das mulheres ficariam contentes de eliminar a menstruação, só para se livrarem das dores e mal-estar associados a esta altura.
Opinião ligeiramente diferente tem o obstreta Miguel Oliveira da Silva, professor de ética na Faculdade de Medicina de Lisboa. Em declarações ao «Diário de Notícias», o obstreta lembra que «nem todas as mulheres vão aceitar bem a nova pílula. Para muitas está associada a uma série de mitos: é uma limpeza, a saída de sangue impuro». Mesmo assim, o médico calcula que cerca de 15% das portuguesas estaria disposta a usar o novo fármaco.
Existem ainda alguns estudos a realizar à «Lybrel», que visam avaliar que efeitos pode ter no corpo da mulher, já que a menstruação não é um fenómeno só ligado ao aparelho reprodutor. Mas até agora não se supõe que existam riscos superiores aos do uso da pílula tradicional. E, apesar de ainda não existir nenhum pedido no Infarmed para a comercialização do novo fármaco, Oliveira da Silva acredita que, caso seja aprovado nos EUA, em breve estará em Portugal.