
A CRUZ ATRAI AO SEGUIMENTO
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“Quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim”. Esta atracção que a Cruz exerce sobre todos nós, não é para nos conduzir ao abismo – na Cruz, Jesus revela-nos Amor e Salvação – mas para nos chamar à plenitude da nossa realização que, na morte cristã, encontramos a força para a transformação radical no encontro da plenitude da vida, numa transformação plena em Jesus Cristo Ressuscitado.
1. A primeira leitura descreve este desconcerto perante a Cruz, a dor e a morte. Jesus Cristo assumiu todas as consequências das nossas misérias, dos nossos erros. Ofereceu a Sua vida como sacrifício de expiação. Foi eliminado por sentença iníqua. Porém, esmagado pelo sofrimento, virá a ter uma descendência duradoira. Terminados os sofrimentos – tudo o que é sinal de fraqueza e de fragilidade é passageiro, pois não tem consistência em si mesmo – terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado na Sua sabedoria. Receberá as nações como prémio, porque Ele próprio entregou a Sua vida à morte e tomou sobre si as culpas das multidões…
Então, diz-nos a epístola aos Hebreus: “tendo nós um sumo-sacerdote que penetrou nos céus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé”. “Vamos, portanto, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia”, pois, Ele “tornou-se, para todos os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna”.
A partir daqui, o Evangelho da Paixão é muito claro, na determinação com que Se entrega na Sua vocação ao Amor: “A quem buscais?” – pergunta, com inquebrável serenidade, de cara levantada e fixando os que O enfrentam. “Sou Eu”, adianta Jesus, repetindo a oferta da Sua vida por Amor, aos que, perplexos, hesitam na decisão que levavam…
2. Agora, entra em acção o poder das trevas. Poder transitório, também, pois marcado pela fraqueza e inconsistência – é pelo medo que Pilatos O entrega, pois condena-O sem ter encontrado culpa alguma – será, portanto, um poder caduco e fracassado… até à consumação da obra das trevas e do pecado. Um poder sempre limitado e sem horizontes, para lá da satisfação terrena e muito mesquinha das próprias ambições.
E ouve-se o grito de Jesus: “Tudo está consumado”, quer dizer, tudo está realizado como o previsto por Deus, no dealbar da criação, quando prometeu a Redenção. Tudo está realizado pelo Amor que Se entregou e pelo Amor que Se ofereceu em substituição dos verdadeiros culpados e que, assim, ficaram isentos de culpa e ficaram livres da pena…
E a Cruz começa a atrair a si todos os que entram e acolhem a vocação ao Amor: logo o Cireneu que aceita levar a Cruz; as mulheres que, muito a medo e talvez condoídas, exercem a sua profissão; depois o bom ladrão que, na Cruz, reconhece o Salvador; o centurião que, finalmente, abre os olhos para reconhecer que Ele era justo; os próprios José de Arimateia e Nicodemos, amigos na sombra por medo dos judeus, aparecem, no momento da Cruz… Finalmente, a multidão regressa a casa batendo no peito, ao ver o que se passava… Depois, é toda a multidão incontável, ao longo dos tempos, onde nos incluímos, hoje, todos nós…
3. Estamos aqui como seguidores da Cruz. Não de uma Cruz de fracasso, mas de uma Cruz que é a vitória do Amor. Estamos aqui como seguidores de um crucificado por Amor. Não um crucificado morto e enterrado, mas um crucificado que voltou à vida, que está vivo e ressuscitado e que caminha connosco. É Ele Quem nos dá o sentido da Cruz, da dor, da morte e da vida. É Ele Quem nos chama à vocação à Vida e à vocação ao Amor. É Ele Quem nos diz que a Vida tem sentido quando conseguimos ver na Cruz e na morte a outra face – a do Amor, a da Ressurreição e a da Vida.
Precisamos, então, de viver a Sexta-feira Santa percebendo bem a causa da morte de Jesus. Ele morreu pela Verdade e morreu pelo Reino. Pela Verdade que é Ele próprio, pois tudo o resto é falso e não suporta nem merece a nossa confiança. Verdade que, naquele momento, nem sequer foi apresentada, tal era o ambiente de mentira, de traição, de medo, de negação da própria consciência de quem O apresentava e de quem O julgava. Ele morreu pelo Reino. Reino que é Ele próprio, que não tem aqui a plenitude, mas que Jesus quer instaurar no coração de todo o homem para ter a sua plena e total realização na Casa do Pai. Reino que é Amor, Vida, Verdade, Justiça, Solidariedade, Santidade, Graça, Paz. Reino que, outrora como hoje, tantas vezes e de tantos modos, não é aceite, nem reconhecido nem respeitado.
Se sangue de mártires = semente de cristãos; sangue de Deus feito Homem por Amor = semente de filhos de Deus, regenerados e purificados como novas criaturas, chamadas ao Amor.
Sexta-feira Santa – Hora de Jesus – Hora de decisão na escolha de quem vale a pena seguir para encontrar a Vida. Na Cruz de Jesus, encontramos o Amor do Ressuscitado, ainda que, para O seguir, tenhamos que tomar a cruz de cada dia. Na nossa cruz, levada no seguimento de Jesus, encontramos a dor, o sofrimento, a morte. Porém, encontramos, também, o Amor do Ressuscitado, a vitória da Vida que é vitória sobre todas as mortes e quem acredita n’Ele tem a Vida eterna e ressuscitará no último dia. Por isso, a nossa Fé em Jesus Cristo, assenta no Sepulcro Vazio, na Ressurreição, na certeza da vida para além da morte, na glória e na eternidade na Casa do Pai.
Senhor, eu creio em Ti. Só Tu tens palavras de vida eterna, porque és o Cristo, Filho de Deus Vivo. AMEN!
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