
Na nossa interpretação, partimos do princípio de a revelação bíblica ser «a única revelação de Deus destinada a todos os povos [e] ter ficado concluída com Cristo e o testemunho que d'Ele nos dão os livros do Novo Testamento» (Bento XVI, quando ainda era Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé).
O texto da Terceira Parte do Segredo de Fátima foi escrito pela Irmã Lúcia, a 3 de Janeiro de 1944, quase 27 anos depois da data da referida visão, não tendo nós mais do que uma única testemunha da mesma.
Não está muito bem estruturado a nível de conteúdo e contém várias incorrecções, a nível das convenções da escrita portuguesa, perfeitamente desculpáveis, aliás! Divide-se em quatro partes: um título-exposição; uma dedicatória-oração; e o corpo do texto, narrando duas visões, aparentemente sem nexo entre elas. Termina abruptamente, sem conclusão.
O relato da primeira visão parece uma passagem do livro do Apocalipse. Há, no entanto, duas diferenças significativas: neste texto, há, primeiramente, uma tentativa de destruir o mundo e depois é que vem o apelo à penitência, como se fosse uma frustração do Anjo por não ter conseguido o que pretendia; e não o consegue porque Nossa Senhora não deixa. Como a ordem lógica está trocada, aqui não é a penitência que evita a destruição, mas a intervenção medianeira de Maria. Consequentemente, nem é feita penitência, nem são castigados os que não a fazem e, logo a seguir, quem vem a sofrer são os justos.
Na segunda visão, em corte aparente com a anterior, o primeiro personagem deste mundo a sofrer é identificado como sendo o «Santo Padre», embora tal identificação seja mero pressentimento. Ele vai à frente dos restantes membros da Igreja, subindo uma montanha rematada por uma cruz tosca, que é, evidentemente, o calvário da imaginação tradicional. (Note-se que o Calvário histórico não era nenhuma montanha e que com Jesus havia mais 2 crucificados!)
Do mero pressentimento, passa-se à afirmação inequívoca de que o «Bispo vestido de Branco» é o Santo Padre. Antes de subir à montanha, ele passa por uma «grande cidade» semi-destruída. Ficamos, assim, a saber que houve uma grande destruição, da qual resultaram vários mortos, mas não sabemos porque aconteceu nem como aconteceu. Esta destruição parece ter sido tão grande que não parece haver mais ninguém nas ruas, para sepultar os cadáveres, nem para orar pelas almas deles. Apenas o «Santo Padre» ora por eles, antes de subir a «escabrosa montanha», o calvário para o qual a Igreja sobe. Tão-pouco sabemos por que motivo ele e os restantes membros da Igreja têm de a subir.
No cimo deste calvário, o «Santo Padre», ajoelhado diante de uma única cruz tosca, é morto e, seguidamente, todos os restantes membros da Igreja, por ordem hierárquica decrescente, também o são. Não se fala de nenhuma sucessão do Clero, embora se permita entender que alguns leigos escapam, ao afirmar que só «várias pessoas seculares» são mortas.
O grupo de soldados carrascos representa, aqui, claramente, as forças do mal, as portas da morada dos mortos, o Inferno, que prevalecem, neste mundo, sobre a Igreja, conseguindo eliminá-la daqui!
O texto termina de uma forma abrupta e confusa, deixando-nos a saber o mesmo que sabíamos antes de o ler. Os Mártires e as «almas que se aproximavam de Deus» são os mesmos? Se assim for, por que motivo têm de ser regados com o seu próprio sangue? Não é dito tratar-se de baptismo de sangue!... Depois de mortos todos estes elementos da Igreja, esta acaba neste mundo, vencida pelas forças do mal? Qual o destino reservado a estas últimas, já que o texto não diz que venham a ser punidas nem a arrepender-se? Terá lugar a segunda vinda de Cristo, logo a seguir?
Supunham alguns que esta terceira parte do Segredo trataria dos seguintes assuntos:
1.O afastamento e a morte de João Paulo II;
2.A grande tribulação (Apocalipse);
3.A grande purificação da humanidade e de toda a criação;
4.A nova evangelização em todo o mundo em testemunho a todos os povos;
5.A nova criação;
6.A vinda gloriosa de Jesus;
7.A civilização do amor e da paz no terceiro milénio.
Sr interpretarmos de uma certa forma, talvez não se enganassem muito! Todavia, tudo aqui nos parece como se estivéssemos perante uma narração de um sonho... um pesadelo. Os próprios regadores de cristal nas mãos dos Anjos evocam a imaginação popular infantil e o mundo do sonho!
É evidente que este Segredo, conforme está aqui escrito, ainda não se concretizou, até este momento! Caso contrário, seria a negação do que Cristo afirmou ou seria, implicitamente, o fim do mundo seguido da Sua segunda vinda! Estariam, assim, certas as especulações daqueles que supunham que o Terceiro Segredo seria a previsão do fim do mundo?...
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